Neste chão repousa um espírito nobre. Um exemplo que vai além da taipa, do pampa e da história. Um apelo silencioso ao bom Deus, para que olhe com ternura o Cemitério dos Cativos, onde negros e brancos tornaram-se imortais pela compaixão e dignidade de suas vidas. Depois da morte, somos todos iguais. Estas pedras, manchadas de suor e sangue, guardam cruzes que se afundam no chão, semeando paz e igualdade entre os homens. Por volta de 1840, nos campos da Bossoroca, vivia um poderoso estancieiro chamado Barrios. Homem de coração duro, fazia sua própria justiça. Tinha muitos escravos, poucos amigos, e comandava com rigidez. Certo dia, durante a construção de uma mangueira de pedras, dois grupos de escravos trabalhavam sob o sol. Crianças corriam e brincavam, entre elas um menino branco, enteado do vizinho José Fugante. Em um acidente entre as pedras, o garoto se feriu gravemente e faleceu, apesar da tentativa dos escravos de socorrê-lo. Enfurecido, Barrios ordenou que três escravos fossem degolados. A cabeça de um deles foi cravada diante da senzala como aviso: que crianças de cor diferente jamais brincassem juntas. A brutalidade despertou a fúria dos cativos. Dias depois, enquanto o estancieiro descansava sob uma árvore, os escravos o atacaram com paus e pedras. Barrios morreu sem reagir, colhendo a violência que semeou. Ao saber do ocorrido, Fugante apenas suspirou: “Não se conserta um erro com outro.” Diferente de Barrios, Fugante tratava seus escravos com humanidade. E fez um pedido: que, ao morrer, fosse enterrado ao lado deles. Assim nasceu o Cemitério dos Cativos — símbolo de igualdade num tempo em que enterrar um negro ao lado de um branco era crime. 5z4ng
Em 1850 começou a tornar-se proibido o tráfico de escravos, mas o negro ainda era considerado por lei um “elemento servil”. Somente após 13 de maio de 1888, com a da Lei Áurea, que estes gaúchos, José Fugante e os negros sacrificados, deixaram de ser contraventores, mesmo depois da morte. São, ainda hoje, exemplos a toda terra, de que somos todos iguais por cima ou por baixo do chão. O pequeno grupo de cruzes, encaixotadas por muralhas, está localizada no distrito de Igrejinha, a cerca de 7 Km da cidade. Consta ser o único do gênero no Rio Grande do Sul.
Fonte Prefeitura de Bossoroca
Por Otavio Reichert
Pajada sobre o Cemitério dos Cativos.
Vídeo sobre o Cemitério dos Cativos.Maiores detalhes da rica história e os patrimonios de Bossoroca, seus filhos, suas riquezas culturais e peculiaridades entre no Blog Bossoroca RS uma das mais completas paginas sobre as riquezas de um município missioneiro.
Cemitério dos Cativos
Bossoroca, RS
Localizado num local chamado Igrejinha, a cerca de 7Km da cidade.
Telefone: (55) 3312-9485